As demandas e dificuldades de gays, lésbicas, bissexuais e transexuais que possuem algum tipo de transtorno mental foram o foco da reunião, realizada na tarde desta terça-feira (24), no Centro de Promoção e Defesa dos Direitos LGBT da Bahia, no Rio Vermelho, em Salvador.
Cerca de 30 pessoas, entre profissionais da área técnica de saúde mental, assistentes sociais, além de interessados no debate, participaram da discussão, que expôs diversos tipos de violência e preconceito sofrido por essa parcela da população. O encontro foi promovido pelas Voluntárias Sociais da Bahia (VSBA), em parceria com a Associação Papo de Mulher de Mulheres Usuárias dos Serviços de Saúde Mental de Salvador.
De acordo com a coordenadora do Serviço Social das VSBA, Tânia Nogueira, há cerca de dois anos existe o projeto ‘Papo de Mulher’, criado para discutir a situação da mulher na sociedade, desde a inclusão no mercado de trabalho até as diversas formas de violência sofridas, e, ao longo do tempo, novas necessidades foram surgindo. “Foram as usuárias do serviço de saúde que mostraram a preocupação com os homossexuais com transtornos, homens e mulheres, e o tratamento que eles têm recebido, como o preconceito dentro e fora de casa, o que pode, inclusive, agravar o problema de saúde. Trouxemos o debate para esse espaço para que depois da discussão, as conclusões sejam convertidas em luta por políticas públicas efetivas”.
Preconceito
Foram debatidos assuntos como preconceito familiar, violência em suas diversas manifestações, desde o abuso sexual até a que acontece nos manicômios, além de educação sexual. Usuário dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), José Raimundo Santos, que também participa da Associação de Usuários e Familiares da Saúde Mental, relatou que já passou por situações de preconceito e constrangimento ao tentar registrar uma queixa numa delegacia de Salvador. “Recentemente fui assaltado e, quando fui relatar o roubo para o policial, ele me perguntou qual era minha relação com o sujeito e se eu tinha algum envolvimento sexual com o assaltante. Eu quase não acreditei quando escutei tanto preconceito numa pergunta só”.
Para a integrante da Associação Papo de Mulher, Girlene Almeida, a questão sexual dos portadores de transtorno mental deve ser tratada com mais naturalidade e a educação é a solução para isso. “Ao invés dos profissionais reprimirem ou recriminarem o desejo sexual dessas pessoas, eles deveriam ensinar que não é ‘feio’ ou ‘proibido’ fazer sexo, por exemplo, mas que é preciso ter limites e cuidar da própria saúde e da saúde do outro, com o uso de preservativos”, opinou, depois de contar sobre sua vivência em manicômios.
O debate desta terça-feira foi resultado do envolvimento do grupo das Voluntárias Sociais da Bahia com diversas iniciativas, inclusive com demandas que surgiram na instituição. “Sempre apoiamos quem precisa de ajuda e foi por isso que acolhemos essas mulheres, que procuraram a nossa instituição, incluindo-as no projeto da economia solidária, promovido pela Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), para que possam produzir e garantir o sustento”, acrescenta Tânia.